Residência Médica: Em Que Pé Estamos?
8 de janeiro de 2018 |O Brasil tem mais um recorde. Se bom ou ruim, só o tempo vai dizer. O fato é que nenhum país do mundo tem tantas escolas de medicina veterinária e médicos veterinários formados a cada ano. É possível emparelhar quantidade e qualidade?
Para abrir a nossa série sobre “o Ensino da Veterinária no Brasil”, convidamos a veterinária e professora Cássia Maria Coelho, que tem se destacado à frente da Residência Médica do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Leia, reflita e participe deixando seu comentário!
Professora e veterinária Cássia Maria Coelho: trabalho de destaque na UFRRJ.
Profa Cássia, o Brasil é recordista mundial em número de escolas de medicina veterinária e de médicos veterinários formados anualmente. Como você vê a qualidade desses profissionais que estão chegando no mercado de trabalho?
A discrepância na qualidade do ensino entre instituições é proporcional à quantidade de escolas. Ainda assim, generalizando, todos saem “com uma folha em branco”. Imagine que o curso de Medicina Veterinária dá o papel e delimita as bordas, isto é, mostra suas competências.
A evolução da tecnologia e da ciência transformaram as necessidades de conhecimento entre a primeira turma formada no Brasil — em 1917, na UFRRJ — e aquelas dos anos 50, 70, 90, e até de cinco anos atrás! Não é possível em cinco anos formar um profissional generalista tecnicamente excelente. Mas é possível fornecer um papel de qualidade, com bordas ajustáveis à vontade de vencer de cada um.
Neste momento da história, a minha percepção é de que a qualidade do profissional está muito mais ligada ao seu estado de desenvolvimento emocional, seus princípios, sua moral e ética — ah, e claro! — à sua vontade de buscar as respostas, ainda que se comece “dando um Google”.
Na sua opinião, qual o papel das residências médicas nessa formação?
Deveriam ser obrigatórias para quem decide pelo viés da Medicina e são um grande diferencial para outras áreas. Especificamente na área médica, uma boa residência deve ser capaz de criar uma armadura que vai salvaguardar o profissional por toda a sua carreira. O discente deve experimentar as dificuldades, frustrações e impotência da medicina — sim, sentir isso! —, mas sempre com a certeza do acolhimento profissional do corpo docente.
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Você acha que já chegamos em um modelo final ou ainda há muito o que ajustar? Quão longe estamos dos modelos de residência dos EUA e Europa?
Sempre podemos melhorar. E pela minha formação acadêmica acredito que a melhor forma seja experimentar e não ter medo de enfrentar paradigmas. Infelizmente, pelo menos nas instituições públicas, as restrições financeiras e burocráticas tornam estes ajustes mais morosos. Mas gosto de me apegar a exemplos de sucesso que surgem por causa das dificuldades. Como estaríamos se as dificuldades não existissem? Mais confortáveis certamente; menos evoluídos, possivelmente. Pessoalmente não vejo graça em ganhar por W.O.
Em relação aos modelos americano e europeu de residência, não sei se seria adequado compará-los com os do Brasil. No Brasil, a residência é um Programa de Aprimoramento Prático, ainda que 20% da carga horária seja teórica. Vejo o modelo americano e europeu como um curso de formação de um profissional de excelência numa especialidade. Sobre este fim, nossos cursos estão muito aquém. Talvez, no Brasil, este propósito esteja muito mais ligado aos Colégios e Associações do que à Universidade. Na anestesiologia, por exemplo, vejo um movimento bem promissor do Colégio Brasileiro de Anestesiologia Veterinária para a creditação de especialistas a partir da base, isto é, da certificação dos Programas de Residência em Anestesiologia Veterinária e da prova para título de especialista. Torço muito para que outros Colégios ajudem neste processo.
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A UFRRJ vem se consolidando como um dos grandes centros de residência médica veterinária da atualidade. A que você atribui esse resultado tão positivo?
Trabalho, trabalho, trabalho (em quantos caracteres forem possíveis: trabalho). A Residência Veterinária da UFRRJ tem um projeto pedagógico contemporâneo e diferenciado: ainda que possua programas com áreas de especialidades — Cardiologia, Medicina de Felinos, Oncologia, Dermatologia, Oftalmologia, entre outros —, o treinamento contempla a formação em clínica geral, enfermaria, emergência, triagem hospitalar e saúde pública. E por sorte — que pelo que dizem, é quando a oportunidade encontra o conhecimento! —, temos um corpo de servidores (docentes e técnicos) estimulados a fazer o melhor pelo ensino, pesquisa e extensão universitária.
Profa Cássia (embaixo, à esquerda) e turma de residentes da Rural: “a qualidade do profissional está muito ligada à sua vontade de buscar respostas”.
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