Braga e Thrall: Um Bate-Papo Em Trânsito

Na prateleira de dez entre dez radiologistas, os livros do Dr Donald Thrall estão na bibliografia obrigatória do diagnóstico por imagem e na formação de radiologistas do mundo todo. Em setembro, Dr Thrall esteve no Brasil como convidado do 3o Encontro Internacional de Medicina Veterinária, evento produzido pelo IBVET. Ao lado dele, no painel de palestrantes e também no banco da van, Dr Rômulo Braga, coordenador do setor de radiologia do CRV Imagem.

A caminho de Atibaia, em São Paulo, Dr Rômulo aproveitou para puxar um papo. Confira!

Abaixo as versões em português e inglês da entrevista. 

 

Professor, do alto da sua experiência e conhecimento, o que você diria para quem está interessado em ingressar na carreira de diagnóstico por imagem?

Nos Estados Unidos, quando os jovens me perguntam isso, sempre digo que essa carreira é extremamente competitiva. Mas sempre digo também o quão maravilhosa ela é. Se tiverem a sorte de conseguir entrar no meio, vão gostar do que fazem pelo resto da vida. Eu quero que eles entendam o quão difícil é ingressar. É preciso cumprir várias etapas (nos Estados Unidos): faculdade de veterinária, estágio, residência, a prova do Colégio de Veterinária. O processo é longo e tedioso, mas o resultado final é compensador. É uma profissão muito gratificante.

 

E grande parte do nosso trabalho acontece nos bastidores…

Sim, nós não estamos ali com o cliente ou com o cachorro. Ainda assim, fornecemos um serviço de extremo valor, não só aos veterinários, mas também aos amantes de animais e aos pets em si. É um serviço indireto, mas muito importante. Sempre tento chamar atenção para o quão recompensadora é essa profissão.

 

 

Qual a sua avaliação do setor de diagnóstico por imagem no Brasil?

O Brasil avançou muito na área desde que comecei a vir pra cá, há 5 ou 6 anos atrás. Vejo muitas pessoas entusiasmadas, bem treinadas e, certamente, competentes. Há um bom começo para o progresso da expertise em diagnóstico por imagem. Isso leva tempo. É preciso que haja pessoas que queiram ensinar, instalações, dinheiro, essas coisas. Isso não vai surgir da noite pro dia, é preciso tempo para que se desenvolvam. Mas eu vejo o desenvolvimento acontecendo. Vejo a paixão. E eu estou bastante impressionado com o nível profissional daqui.

O que acho interessante é que o avanço real parece estar no setor privado, e não nas universidades. Acho que as universidades terão de ter como objetivo desenvolver o setor de imagem. Os alunos precisam ser expostos a um trabalho de alta qualidade em todas as especialidades, incluindo diagnóstico por imagem. Acho que é só uma questão de tempo até que a diferença entre setores privado e público diminua.

Quanto mais pessoas trabalhando com imagem, mais nós iremos aprender. Nunca é demais ter muitas pessoas trabalhando numa área. É por isso que estou aguardando ansiosamente o que vocês vão fazer.

 

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Professor, você acha que o radiologista hoje deve dominar todas as modalidades de exame ou se especializar em uma ou duas?

Bom, nos dias de hoje, se você quer ser um especialista, é preciso ter algum nível de expertise em tudo. Não precisa saber tudo por igual. Você pode ser mediano em algumas coisas e ter um conhecimento avançado em outra. Mas acredito que o radiologista tem de estar familiarizado com todas as modalidades de exame senão fica complicado saber como integrá-los e o quê sugerir como o melhor caminho a ser seguido.

Isso não se aplica necessariamente ao meu caso. O ultrassom só foi aparecer bem depois de iniciada a minha carreira. Então eu não sou um expert em ultrassom, eu nem faço ultrassom. Mas o radiologista não pode mais seguir assim. Ele tem de saber articular, participar e desempenhar tudo, ainda que mantendo níveis diferentes de conhecimento para cada modalidade de exame.

Sempre achei que os programas de treinamento não deveriam dar a mesma ênfase a todas as modalidades. Acho que os programas devem priorizar os seus pontos fortes, sem deixar, no entanto, de cobrir tudo de uma maneira básica. Isso pra mim é pré-requisito.

 

Professor, você tem planos de retornar ao Brasil?

Bom, não vejo por que não. Nós (Thrall e sua mulher, Mary Anna) fomos muito bem recebidos, conhecemos pessoas fantásticas, incluindo você, e todo mundo tem sido muito delicado. Como disse, não há nada para não gostar.

 

Obrigado, professor. Foi um prazer e uma honra.

 

Dr Ronald Thrall e Dr Rômulo Braga, no Encontro de Medicina Veterinária. 

 


VERSÃO EM INGLÊS

 

Given your experience and knowledge, what would you say to those wanting to make a career in image diagnosing?

Young people ask me this in the United States and I always tell them how competitive it is. It’s extremely competitive. But I also tell them what a wonderful profession it is. And if they’re lucky enough to get in, they’ll enjoy it for the rest of their lives. I wanna make sure they understand how difficult it is and all the steps in our country that are necessary to get employed: veterinary school, internship, residency, examination, it’s a long, tedious process, but the end result is worth it. I think it’s a gratifying profession.

 

And most of the work we do is behind the scenes…

Yes, we are not out there with the client, with the dog. But yet we are providing an extremely valuable service to not only other veterinarians but also to animal lovers and to pets. So it’s an indirect service we are providing to the profession but nevertheless I think it’s very import and I try to impress upon what a rewarding profession that is.

 

What is your take on the imaging sector in Brazil?

I think imaging in Brazil has come a long way since I’ve first been coming here 5 or 6 years ago. I can see a lot of people have enthusiasm, a lot of people are well trained, certainly competent and there’s a very good start for progression of imaging expertise. It takes time. It takes people who want to teach, facilities, money and all of that. It doesn’t come overnight, it takes a very long time to develop. But I see it developing. I see the passion. And I’m very impressed with the expertise that I see.

I think it’s interesting that the real advancement seems to be in the private sector more so than in the universities. I think some of the universities are going to have to make it a goal to develop imaging within the university because the students need to be exposed to high quality of work in all specialties, including imaging. I think it will come, it’s just a matter of time when there isn’t so much of a difference between the private sector and the universities.

So the more people we have in imaging the more we all are going to learn. You can’t have too many people working in a area so I’m anxiously awaiting what you do.

 

Professor, do you believe the professional of imaging should know all the modalities of imaging or focus on a few of them?

Well, in this day and age, I think that if you are really going to be a specialist you need to have some level of expertise in everything. Now that doesn’t have to be equal. You can have average expertise in somethings and advance expertise in another. But I think you need to be familiar with everything otherwise it’s difficult to know how the modalities integrate with each other and what might be the best way forward.

For me that’s not necessarily the case because diagnostic ultrasound came along after I had already started so I’m not an expert in ultrasound, I don’t even do ultrasound. But you can’t do that anymore. You need to be able to converse and perform and participate in all things. But not necessarily at the same level.

I always thought that the training programs don’t have to emphasize the same levels. Some training programs can emphasize their strengths, other training programs can emphasize their strengths but as long all areas are covered to some basic levels. I think that’s a requirement.

 

Professor, are you planning on coming back?

Well, I don’t see any reason why we (Thrall and his wife, Mary Anna) would not come back if the opportunity presents itself. We’ve been treated so nicely, we’ve met some wonderful people, including yourself, and everyone has been so gracious. Like I said, there’s nothing not to like.

 

Thank you, professor. It’s been a pleasure and an honor.

 

Donald Thrall: o mentor de 10 entre 10 radiologistas. 

 

 


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