Radiologistas do Mundo: Dra Cintia Oliveira (parte 2)
21 de julho de 2015 |Na primeira parte desta entrevista, a veterinária especialista em diagnóstico por imagem Dra Cintia Oliveira conta o que a levou a deixar o Brasil e tentar residência nos Estados Unidos. Hoje, a continuação deste bate-papo aborda a estrutura do sistema de ensino veterinário dos EUA e o que é preciso fazer para conseguir a tal cobiçada vaga de residência.
Dra Cintia, quais os maiores desafios encontrados ao tentar ingressar e para se manter em uma residência fora do Brasil?
Entrar em um programa de residência aqui nos EUA é bastante complicado. O primeiro grande problema para um estrangeiro é a falta de informação sobre o processo. Por mais que a informação esteja disponível, não dá para o profissional que mora em outro pais e nunca viveu a Medicina Veterinária norte-americana realmente entender as minúcias envolvidas em se candidatar a uma residência. Uma vez estando aqui e batendo muito a cabeça, a gente passa a entender esse processo e saber o que é preciso ser feito. Até esse momento, não estou me referindo a conhecimento e qualificações, apenas à burocracia mesmo.
Depois que você compreende como as coisas funcionam — e isso leva um tempo —, é preciso provar que tem as qualificações e o conhecimento necessários, e aí o bicho pega de novo. Os americanos não lhe dão facilmente a chance de demonstrar sua capacidade. Você tem que abrir caminho e se impor, o que requer mais tempo, dinheiro e muita determinação. Todos os anos, centenas de candidatos do mundo inteiro tentam conseguir uma vaga de residência aqui nos EUA, e a radiologia é das especialidades mais concorridas. No mais, nós, estrangeiros, necessitamos de um visto especial, nos formamos em uma instituição de ensino desconhecida aos americanos (seja ela qual for), não falamos inglês como primeira língua, e por aí vai, a lista é grande. Com a vaga adquirida, o resto fica nas mãos do profissional, que terá de investir uma quantidade significativa do seu tempo e dedicação para completar a residência.
A certificação dos especialistas na Medicina Veterinária no Brasil difere bastante do processo nos EUA e em outros países europeus. Poderia comentar um pouco sobre essa certificação?
Assim como no Brasil, aqui nos EUA existem os colégios de cada especialidade, como o Colégio Americano de Radiologia Veterinária. Mas o papel que esses colégios desempenham aqui difere muito daquele no Brasil.
Nos Estados Unidos, os colégios são regidos por um órgão maior, a AVMA (American Veterinary Medical Association), que também regulamenta rigorosamente as escolas de Medicina Veterinária. A regulamentação dos programas de residência se dá por meio desses colégios, com cada um deles responsável pelo programa de residência da sua especialidade.
A jurisprudência dos colégios se estende também à certificação do especialista, um processo que envolve um mínimo de 3 anos de residência e provas de qualificação e certificação. Uma vez aprovado, o profissional recebe o título de diplomado, o que lhe confere um respeito muito grande, tanto aqui quanto na Europa.
Embora desconheçam os meandros para se conseguir esta certificação, os clientes são constantemente educados sobre como é difícil conquistar este título. Mais informação equivale a maior valorização e, consequentemente, a maior predisposição a pagar pelos honorários do veterinário.
Obrigado mais uma vez, Dr Cintia Oliveira.
Muito obrigada pelo convite! É sempre um prazer discutir essas questões da nossa profissão e especialidade!
Comentários