Por que NÃO é difícil diagnosticar Shunt Congênito?

O Shunt parece ter invadido os consultórios e, hoje, há uma certa propensão em generalizar as suspeitas clínicas: “tudo é Shunt”. Dr Mauro Caldas, Coordenador do Setor de Tomografia do CRV Imagem, aborda os sintomas da doenças e explica como, através dos exames de imagem, o diagnóstico do Shunt Congênito pode ser simples, simples.

 

Dr Mauro, o que é Shunt Congênito?

Shunt congênito é uma variação de conformação de vasos sanguíneos que, em vez de levar o sangue rico em nutrientes pela veia porta para o fígado — onde há todo um processamento das substâncias absorvidas (proteínas, gorduras etc), depurando toxinas  e liberando na corrente sanguínea substratos ideais para a absorção pelos tecidos —, eles liberam essas substâncias direto na circulação sistêmica, por isso é conhecido como desvio porto-sistêmico.

Sem esse processamento no fígado, várias substâncias podem ter toxidade para as células, além de não receberem a forma ideal de nutrientes; e o fígado, por ser subutilizado, fica diminuído. Os sinais clínicos mais comuns são frequência cardíaca baixa, perda de peso, febre e intolerância a anestésicos ou tranquilizantes. A disfunção neurológica, quando ocorre, inclui letargia, depressão e ataxia, até andar em círculos, alterações comportamentais, cegueira, convulsões e coma. Nos acometimentos mais crônicos encontram-se ainda alterações gastro-intestinais e urinárias com formação de cálculos. Os sintomas são frequentemente agravados em episódios de ingestão hiperproteica.

 

Por que o diagnóstico de Shunt não é tão complicado? E como fazê-lo?

O Shunt era uma doença subdiagnosticada por não haver métodos de imagem de fácil execução para o diagnóstico definitivo.

Pacientes suspeitos pelo histórico e avaliação clínica realizada pelo médico veterinário devem fazer exames de sangue onde os achados incluem microcitose (sem causa conhecida), hemácias em “alvo”, pleocitose (gatos) e anemia arregenerativa leve.


As enzimas hepáticas alanino aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e a fosfatase alcalina (FA) podem estar normais a levemente aumentadas, em geral de duas a três vezes. Deve-se obter também as concentrações dos ácidos biliares (ABSs), idealmente pré e pós prandial. A uréia diminuída e amônia aumentada também são achados comuns em cães e gatos com “shunt” congênito.

 

Nos exames de imagem, radiografias podem sugerir a diminuição do volume hepático e investigar presença de cálculos urinários. A ultrassonografia com Doppler com um ultrassonografista experiente pode pode ser diagnóstica para a presença de shunts, mais facilmente se ele estiver dentro do fígado. Outros métodos mais confiáveis para detecção são a cintilografia e a portografia, porém a primeira é de difícil acesso no Brasil, e a segunda, um método mais invasivo. A tomografia helicoidal com contraste é considerado um ótimo método de facílima execução e ótima sensibilidade, ainda sendo o método com melhor detalhamento para o cirurgião fazer o planejamento da correção cirúrgica.

 

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