Filhotes a Caminho: os Desafios da Gestação Canina

O que fazer quando sua cadela está esperando filhotinhos? Em que casos deve-se optar por uma cesárea? Qual a importância do acompanhamento pré-natal? Para debater essas e outras questões, o Blog do CRV convidou três grandes profissionais da veterinária do Brasil. Confira como foi nossa conversa com Dr Janh Ferreira, Dr Marcos Makoto e Dr Janh Ferreira.

 

 

Doutores, em muitos casos não é possível fazer o parto de forma natural. Quais os sinais que apontam para uma necessidade de intervenção cirúrgica na hora do nascimento dos filhotes?

Dr Makoto: Na minha prática dificilmente deixo ir além dos 60 dias de gestação, sob risco de sofrimento fetal e morte.

Dr Fred: O trabalho de parto nas cadelas pode demorar até 24h. Muitas cadelas conseguem passar por esse processo por conta própria, mas outras tantas precisam de ajuda: pouco invasiva (manobras fetais e episiotomia) ou invasiva (cesarianas). O que dirá se uma cadela precisará ou não de ajuda são os sinais clínicos e, principalmente, avaliações pré-natais com exames complementares e físicos.

Dr Janh: Contrações sem efeitos, ruptura de placenta sem fetos a termo e idade gestacional elevada sem sinais de trabalho de parto são fatores que indicam a necessidade de intervenção cirúrgica.

Dr Makoto: Avaliar o início da lactação também é uma forma de evitar uma cesárea precoce. Porém, a melhor forma de definir a intervenção ou não para uma cesárea é através do exame ultrassonográfico avaliando a viabilidade fetal, observando a frequência cardíaca e mobilidade.

 

 

Quais são as raças de cães estão mais predispostas a desenvolver complicações na hora H?

Dr Fred: Reconhecidamente, algumas raças necessitam de cesariana devido à proporção entre canal pélvico e circunferência craniana fetal. Alguns exemplos: Buldogues Ingleses, Buldogues Franceses e algumas linhagens de Pugs e Shitzus. De qualquer maneira, podemos programar bem o procedimento cirúrgico para poder agir no melhor momento para a mãe e os filhotes.

Dr Janh: Entre as raças que mais opero estão também yorkshire, pug, chihuahua e, mais recentemente, american bully.  

Dr Makoto: De uma maneira geral, pacientes braquicefálicos (os de “focinho achatado”) têm uma chance maior de apresentar problema durante o parto, quando comparados aos dolicocefálicos (os de cabeça longa e estreita). Fêmeas que já tiveram alguma distocia (complicações durante o parto) frequentemente apresentam novamente em gestações futuras.

O acompanhamento pré-natal ainda é muito pouco feito em cadelas. Na sua experiência, como o crescimento dessa rotina pode ajudar na hora do parto por cesárea?

Dr Fred: Bem, hoje em dia temos um aumento considerável do acompanhamento pré-natal mas ainda é muito aquém do ideal.

Dr Janh: Para mim, o pré-natal é fundamental para o sucesso na tomada de decisão sobre a hora de operar.

Dr Makoto: Exames sequenciais de ultrassonografia iniciando entre os 25 e 30 dias de gestação com intervalos de 2 semanas são fundamentais para que haja informações como batimento cardíaco fetal, mobilidade, tamanho e número de fetos, e data provável do parto. Caso não haja contração uterina ou sinais de lactação próximo à data do parto, mais exames ultrassonográficos devem ser realizados e avaliados pelo clínico para decidir por uma intervenção cirúrgica (cesárea).

Dr Fred: Sempre que acompanhamos a gestação com bons exames clínicos e ultrassonográficos, as chances de intercorrências são muito menores.

 

 

Qual o maior desafio em uma cesárea canina?

Dr Makoto: Diferente da medicina humana, em que a mulher recebe uma anestesia peridural e se mantém acordada e consciente, na Veterinária, cães e gatos precisam de anestesia geral. E com os animais, parte desses anestésicos costuma ultrapassar a barreira placentária até alcançar os fetos, deprimindo as funções vitais deles, causando letargia e alterações na frequência cardíaca e respiratória. Com isso, acaba sendo necessária a intervenção para a reanimação dos filhotes e, dependendo do quadro, pode haver complicações que podem ser fatais.

Dr Janh: Pois é, recuperar os filhotes, mantê-los vivos no pós-imediato é maior desafio. Para isso acontecer da melhor maneira, o acompanhamento pré-natal é de extrema importância.

Dr Makoto: O maior desafio é uma integração multicêntrica envolvendo o tutor e a equipe cirúrgica, com uma anestesia adequada tanto para a mãe quanto para os filhotes, cirurgião treinado, preciso e rápido, além de pediatra de sala de parto para que cada filhote tenha atenção durante a reanimação.

 

 

O que tutores e criadores devem saber para reduzir os riscos de intercorrências nesses procedimentos?

Dr Makoto: Deve haver um cuidado nos dias que antecedem o parto para que a mãe escolha o local em que sinta conforto, segurança e privacidade, ficando livre de estresse desnecessário. Os cuidados médico-veterinários são sempre fundamentais para a saúde da gestante e mãe e os filhotes.

Dr Fred: Algumas dicas podem ajudar, são elas: O ideal é esperar que a cadela tenha, pelo menos, dois cios antes da primeira gestação; após parir, evitar a fecundação no cio seguinte; tentar o acasalamento com machos proporcionais à cadela; evitar cruzamentos consanguíneos e, o principal, fazer o acompanhamento pré-natal com um médico veterinário.

Dr Janh: Trabalhar com prevenção é melhor que trabalhar com cura. O acompanhamento clínico e de imagem aumenta exponencialmente as taxas de sucesso nas cesarianas.

 

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