Quando o exame não aponta nada de anormal

“Nenhum exame é em vão”, já disse inúmeras vezes por aqui Dr Rômulo Braga, coordenador do setor de Radiologia do CRV Imagem. Todo exame, mesmo quando não aponta para nenhum diagnóstico específico, diz alguma coisa sobre o paciente e seu estado clínico? Qual o real valor deste tipo de exame? E como veterinários e tutores devem encarar a situação?

O Blog CRV pôs essas e outras questões na roda e deixou a conversa fluir entre:


Dr Rômulo Braga, coordenador do setor de Radiologia do CRV;

Dr Mauro Caldas, coordenador do setor de Tomografia do CRV Imagem e Membro Diplomado pelo Colégio de Radiologia Veterinária;

Dra Mariana Andruchaki de Souza, do time de RX e US do CRV;

Dr Alex Adeodato, nosso diretor-geral, neurologista e o único dos veterinários da mesa a fazer consultório.

 

 

Doutores, o quão recorrentes são os exames que não apontam para nenhum diagnóstico certeiro?

 

Dr Rômulo: Não é comum um exame sem nenhuma alteração, mas é frequente encontrarmos alterações sem importância clínica. Nesse caso, é fundamental que o clínico, até mesmo com a ajuda do radiologista, consiga interpretar os sintomas que não estão em sintonia com aquilo encontrado no exame.

Dra Mariana: Acredito, Rômulo, que a grande maioria dos proprietários já venha avisada pelo médico veterinário de que o exame serve também para descartar algumas possibilidades.

Dr Mauro: Os exames que não apontam alterações são comuns, sim. Sempre há uma ansiedade tanto do clínico quanto dos tutores (e é óbvio que nossa também) em chegar a uma conclusão diagnóstica da forma mais rápida e segura possível. Mas vemos que, na realidade, há sempre várias opções diagnósticas mais comuns e, apenas eventualmente, as incomuns, que se tornam desafios para todos.

E, você, Dr Alex, encontra muitos desses exames?

Dr Alex: Não acredito que haja exames que nada apontam. Quando corretamente solicitados, os exames devem confirmar ou não uma hipótese diagnóstica. O segredo está em fazer uma boa lista de diagnósticos diferenciais antes de recorrer aos exames complementares.

 

Qual o valor dos exames que não apontam nada de anormal?

 

Dr Rômulo: Pegando um pouco o que o Alex falou, exames são complementares: um ajuda a detectar o que o outro não conseguiu identificar. Um exame que está normal descarta certas suspeitas levantadas no exame físico do veterinário e orienta a investigação para outras possibilidades.

Dr Mauro: Concordo. Esses exames são importantíssimos. Eles excluem inúmeras opções e estreitam outras. Entre as modalidades de diagnóstico, há aquela por exclusão. Quando não há um exame específico que possa confirmar uma suspeita, fazemos outros que possam excluir as outras possibilidades que teriam os mesmos sintomas e sinais clínicos. A utilização de múltiplos exames em conjunto, de forma consciente, é o que dá a segurança para o diagnóstico e tratamento correto.  

Dr Alex: Na prática da neurologia, encontrar um exame sem alterações é normalmente um grande achado. Tive um paciente canino, com 5 anos de idade, que começou a apresentar crises epilépticas e apresentava um exame neurológico normal entre os episódios convulsivos. Esse paciente poderia ter uma lesão expansiva como um tumor, um abcesso cerebral em região de córtex frontal, um pequeno acidente vascular isquêmico em região temporal, uma encefalite inicial ou outras causas menos comuns. Não encontrar nada nos exames de imagem avançados, na avaliação do líquido cefalorraquidiano e demais exames laboratoriais, nos apontou para uma epilepsia de início tardio que, sem sombra de dúvidas, tem um tratamento muito mais simples do que qualquer outra etiologia citada.

 

E, Dr Alex, como tratou a situação com o tutor do paciente?

 

Dr Alex: Toda vez que uma tomografia não aponta anormalidades, a investigação recai para um grupo de diagnósticos diferenciais, que de fato não apresentam alterações na imagem. Essa é uma resposta importante! Costuma ser uma situação de muito alívio quando se descartam diagnósticos mais complicados e de pior prognóstico.

 

 

E, doutores, para fechar: que outras informações esses exames podem passar ao clínico e proprietário? Lembram de algum caso?

 

Dra Mariana: Já realizei ultrassonografias abdominais sem alteração, de pacientes com sintomatologia digestiva, em que o problema estava no tórax. Então, além de descartar alterações abdominais, pude ver em alguns casos, através da ultrassonografia abdominal, alterações torácicas, ou sugerir a realização de radiografias torácicas para complementação.

Dr Mauro: Esses exames podem tanto excluir possibilidades diagnósticas quanto dar um panorama sobre as comorbidades, ou seja, sobre a presença de outras doenças não diretamente relacionadas à suspeita clínica inicial.

Dr Rômulo: Sim, e mais: a responsabilidade sobre um exame com resultado normal em geral é tão ou mais pesada que aquela atrelada ao exame com os resultados alterados. Clínico e radiologista trabalham juntos para desvendar charadas e enigmas que têm grande impacto sobre a vida e a saúde dos animais e seus tutores.

 

 

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