Neurologia Veterinária: “todo paciente é um desafio contra o tempo”

Veterinário com mestrado pela UFRRJ e doutorado em Neurociência pela UNIFESP, Dr Alex Adeodato tem vinte de anos de carreira dedicados a tornar a Neurologia Veterinária tecnicamente mais avançada e reconhecida por clínicos e proprietários de animais. Referência nacional em epilepsia canina, Dr Alex se divide entre o consultório médico e a direção-geral do CRV Imagem, que tem possibilitado diagnósticos neurológicos mais precisos ao disseminar o acesso aos exames de imagem.

Nesta entrevista, Dr Alex discute as razões pessoais que o levaram a escolher a Neurologia Veterinária, os problemas neurológicos mais comuns e a vida dos cães após as cirurgias.

 

Dr Alex, por que a neurologia veterinária?

A neurociência é absolutamente fascinante. Não há nada mais intrigante e desafiador do que estudar e trabalhar com uma área da medicina em que ainda temos muito que aprender.

A sua vertente clínica e cirúrgica tem ainda um componente extra de motivação. A limitadíssima capacidade do sistema nervoso de se regenerar torna cada paciente um desafio contra o tempo. Quanto mais rápido chegarmos a um diagnóstico e tratamento, maiores as chances de recuperação. Ainda que no Brasil ainda não tenhamos reconhecida a especialidade de neurologia, desde 1999 essa é exclusivamente minha área de atuação clínica e cirúrgica. Atualmente estamos buscando uma forma de oficializar a especialidade através da ABNV (Associação Brasileira de Neurologia Veterinária) e com isso tornar mais fácil a busca por profissionais reconhecidamente aptos a atuar na especialidade.

 

Falando de problemas comuns em neurologia, há um número grande de animais em carrinhos ortopédicos andando pelas ruas. Existe um aumento de casos de pacientes com necessidades especiais?

Existem muitos motivos pelos quais um cão pode perder a capacidade de andar. Traumatismos, doenças infecciosas, degenerativas, tumores…, mas certamente o mais comum é a compressão da médula espinhal causada por uma herniação do disco intervertebral.

A prevalência de hérnias em cães é de 2%, mas em algumas raças, como os Dachshunds, a ocorrência é mais comum, e 1 em cada 4 irá manifestar alterações clínicas ao longo da vida. Alguns chegam a perder irreversivelmente a capacidade de andar e possivelmente são os que você mais encontra nas ruas se locomovendo com a ajuda dos carrinhos ortopédicos.

Existe tratamento médico nos casos mais leves, mas se o cão não consegue andar, ficou incontinente ou não consegue sentir as patinhas, precisa ser levado com urgência para a avaliação de um neurologista. A descompressão da medula é um procedimento complexo, mas que, quando feito de forma rápida e por profissional experiente, é normalmente efetivo. Poucas coisas no mundo são tão gratificantes quanto fazer um cão andar novamente.

 

Dr Alex em dois momentos: acima (o primeiro à esquerda), recém-ingresso na faculdade; abaixo, vinte anos depois, à frente do CRV Imagem.
Dr Alex em dois momentos: acima (o primeiro à esquerda), recém-ingresso na faculdade de Veterinária; abaixo, vinte anos depois, à frente do CRV Imagem.

 

E após a cirurgia todos voltam a andar?

A maioria dos casos se recupera muito bem. Mas o retorno da movimentação depende de alguns fatores: gravidade da lesão, o tempo da hérnia até o diagnóstico com exame de imagem avançado (tomografia computadorizada ou ressonância magnética), bem como a demora de encaminhamento a um médico com experiência nesse tipo de tratamento neurocirúrgico.

 

E os carros ortopédicos?

Há alguns ótimos! Muitos animais se adaptam maravilhosamente à nova realidade e levam uma vida feliz passeando no carrinho como se nada tivesse acontecido. Talvez, quem mais sofra seja mesmo a família, pois do ponto de vista prático, o melhor amigo, agora deficiente, exige muito mais cuidado e atenção do que antes.

 

 

Comentários

comentários