Líquor e Tomografia, por Dra Roberta Figueiredo

“A análise do líquor tem especial importância na rotina de um médico neurologista, sobretudo quando há suspeita de doenças inflamatórias, as meningoencefalites”, adianta a neurologista Dra Roberta Figueiredo. Nesta entrevista ao CRV Imagem, Dra Roberta vai da teoria à prática e revela em que casos se vale da análise do líquor e como ela se torna complementar à tomografia. Confira!

 

Dra Roberta, obrigado por conceder esta entrevista. O que é líquor?

O líquido cefalorraquidiano (LCR) ou líquor é um fluido corporal estéril, de aspecto claro, que ocupa o espaço subaracnóide no encéfalo e medula espinhal, além de preencher o sistema ventricular e o canal central da medula espinhal. O LCR tem como função primordial a proteção mecânica e promoção da homeostase do Sistema Nervoso Central.

 

Qual a importância da análise do líquor como exame complementar na clínica neurológica?

A análise do líquor tem especial importância na rotina de um médico veterinário neurologista. É uma peça fundamental do “quebra cabeça” na busca por um diagnóstico, em alguns casos sinalizando uma quebra da barreira hematoencéfalica (BHE); em outros, um aumento de proteínas e número de células nucleadas comuns em quadros inflamatórios. A análise ainda pode ser útil na busca de células tumorais que ajudem na classificação de neoplasias.

 

Em que casos você solicita uma coleta e análise de líquor?

Sem dúvida, a grande maioria dos casos em que solicito coleta líquor são aqueles em que há suspeita de doença inflamatória – as meningoencefalites.

Em muitos casos, a decisão da coleta surge durante a realização da tomografia de encéfalo, sob efeito de um mesmo procedimento anestésico, agilizando a minha conduta terapêutica e busca diagnóstica.

A equipe do CRV conta com equipe treinada e capacitada para a realização da técnica de punção do LCR. Essa parceria é uma ferramenta importantíssima, pois me permite correlacionar os achados de imagens que corroborem ou não a minha decisão de coletar o líquor. Um exemplo são os casos de neoplasias evidenciadas na tomografia computadorizada que, por conta da localização ou dimensão, podem aumentar consideravelmente a pressão intracraniana contraindicando a punção por risco de herniação de estruturas cranianas.

É importante ressaltar que a terapia com corticoide pode alterar de forma significativa o resultado do exame — em especial a contagem de células nucleadas –, podendo dificultar ou atrasar o diagnóstico daquele paciente. Os clínicos que estiverem diante de um quadro neurológico devem encaminhar o paciente para um especialista, pois a tentativa de ajudar e tratar esse paciente pode infelizmente ter efeito contrário ao atrasar o diagnóstico.

 

Aproveitando o tema, com que frequência você vê pacientes com meningoencefalite? Quais as principais causas e qual a importância de um diagnóstico precoce? 

Os pacientes com meningoencefalites são frequentes e correspondem a um importante percentual das consultas neurológicas, podendo chegar a uma média de aproximadamente três pacientes por semana ou até mais. A principal delas é a meningoencefalite de origem desconhecida (MOD) com um caráter possivelmente autoimune. Ainda temos as encefalites bacterianas e fúngicas, mas com uma frequência muito menor.

O diagnóstico precoce através de alterações liquóricas guia o especialista na escolha do tratamento mais adequado e permite uma rápida abordagem, que pode ser crucial para retardar, diminuir ou cessar a lesão de um tecido tão nobre quanto o tecido cerebral.

 

Obrigado pelos esclarecimentos, Dra Roberta.

 

 

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